DAS MARGENS DO RIO TOCANTINS À PA 150 - HISTÓRIA LOCAL E EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO ENSINO DE HISTÓRIA EM JACUNDÁ

Dulcirene Valente Neta, Programa de Pós-graduação em Ensino de História, Mestranda, Unifesspa Instituição de vínculo, dulcivalente2013@gmail.com
Anna Carolina de Abreu Coelho, Professora do Programa de Pós-graduação em Ensino de História, Doutora, Unifesspa, annacarolinaabreu@unifesspa.edu.br

O presente trabalho refere-se a uma pesquisa em andamento, e tem como tema central o ensino de História, a partir de uma perspectiva de História Local. Esse estudo parte do objetivo de querer aproximar a minha prática de sala de aula a uma história próxima da realidade de minha comunidade, e que essa prática possa ser também exemplos para outros docentes. O ingresso no curso de Mestrado Profissional em Ensino de História - Profhistória, para além da oportunidade de uma reaproximação com a vida acadêmica, também possibilitou o despertar para algumas inquietações. Agreguei conhecimentos que aumentaram a minha vontade de tornar as aulas de História mais significativas para os meus alunos, pois não é fácil competir com as tecnologias, tão presente na vida deles, além disso, para muitos a aula de História é vista como estática sem importância. Diante disso, sei o quanto é desafiador ensinar História na contemporaneidade. 

No primeiro momento da pesquisa, estou estabelecendo discussões acerca dos diferentes espaços de memória e de como esses espaços podem produzir um sentimento de pertencimento à cidade. Dessa forma, percebo que é necessário oportunizar meus alunos a inserção da temática de História local e aproveitar para provocar o interesse pela aula de História, pois acredito que, ao se reconhecerem na história de sua cidade, possivelmente irão valorizar o local onde residem e sentir-se parte integrante da história da cidade, e, não apenas como expectadores, mas também como sujeitos sociais dentro do processo de construção da história local. 

Com intuito de aproximar o Ensino de História a uma maneira dinâmica e fácil de entendimento, valorizando o patrimônio histórico cultural da cidade e fundamentalmente aproximar a história da cidade com a comunidade, pretendo desenvolver como produto final, um vídeo game que demonstra estrategicamente, pontos de memórias ressaltadas na pesquisa. Penso que o vídeo game oportunizará muitas pessoas ter o contato com a história da cidade de maneira interativa, o que contribuirá para desenvolver reflexões articuladas com o presente, passado e futuro, além disso, poderão compreender que fazem parte ativamente da construção social da sua comunidade, fortalecendo dessa forma, a sua identidade. O jogo terá uma dinâmica de perguntas e desafios o qual a cada acerto ele se deparará com um lugar de memória de Jacundá. No cenário do jogo, pretendo mostrar a cidade, ainda as margens do Rio Tocantins, depois da transferência, já na Vila Arraias e por último, a Jacundá atual.

Os procedimentos metodológicos usados inicialmente na pesquisa até o presente momento, estão estruturados em uma fase (percorrendo), entrevistas junto aos moradores mais antigo da cidade, divididos em ex-moradores da antiga Jacundá e moradores da Vila Arraias, algumas consultas bibliográficas, e levantamentos de fotografias, contudo as fontes orais, serão de suma importância para esta pesquisa.

Jacundá memórias divididas: entre o Rio e estrada.
O mês de junho do ano de 1973 seria um mês e ano como outro qualquer. Não se sabe ao certo, o dia, talvez fosse um dia de sol brilhante, tal como muitos outros. As crianças banhavam no rio tirando “pontinha” da rampa, outros indo para a escola, mães colocavam roupas para “quarar” nos pedrais, pais saiam para pescar, caçar ou mesmo se aventurar no garimpo, possivelmente muitos bebês naquele dia nasciam pelas mãos das parteiras. Seria um dia comum, se não fosse o grande dia da festa da quadrilha sertaneja. 

Porém, neste mesmo ano 1973, nos escritórios de Brasília, para executar o projeto da Usina Hidrelétrica de Tucuruí (UHT) na cachoeira do Itaboca, criava-se a empresa estatal Eletronorte (Castro, 1996). Os jacundaenses alheio ao que estava por vir, foram atingidos literalmente pela construção da barragem, haja vista que estavam no meio de um grande projeto, que foi criado respondendo possivelmente aos interesse do capital, cujo objetivo era o lucro através da exploração da natureza e da expropriação humana, além do mais era de interesse dos governos militares desse período o preenchimento dos ”vazios”, mito que contribuiu e legitimou a ocupação da Amazônia com os grandes projetos. A origem do nome Jacundá se dar ao nome de um peixe, muito presente no Rio Tocantins. 

Segundo a memória dos antigos moradores de Jacundá ela é caracterizada como uma cidade pacata, formada por ribeirinhos, pescadores, catadores de castanha e alguns poucos comerciantes, más cheia de fartura, de amizades duradouras, de uma beleza peculiar, com um pôr-do-sol jamais visto em outro lugar, com pedrais e praias encantadoras. Era uma cidade pequena com duas ruas, a rua da frente que ficava a margem direita do Rio Tocantins, e também onde ficava o comercio local, a Escola Cel. João Pinheiro, a Igreja de N.do Perpétuo Socorro, então padroeira do Município, o barracão da Santa, o cemitério, o campo de futebol e as casas residenciais. Já na rua de trás tinha a prefeitura, a escola Municipal Pequeno Príncipe, a caixa d’agua e apenas duas residências. 

A Jacundá dividia a outra margem do rio com a Vila Jatobal. Ressalto que havia uma rivalidade entre ambas que estendia do futebol ao festejo das padroeiras. Com a criação da Hidrelétrica de Tucuruí, os moradores foram obrigados a retirarem-se das margens do rio para às margens da PA-150. 

O novo espaço destinado aos desabrigados pela barragem de Tucuruí foi a Vila Arraias. Aparentemente foi um encontro amistoso, entretanto na fala de alguns entrevistados podemos perceber um silenciamento, os expropriados falam que se sentiam estranhos, invasores e invadidos na Vila Arraias, já os arraienses sentiam-se invadidos dado ao fato de que ninguém conversou sobre a chegada desses novos sujeitos que chegaram como se fossem os legítimos donos da cidade.

Vila Arraias, no tempo das madeireiras pica-pau
A Vila Arraia surge inicialmente próximo ao Rio Arraia, ainda na década de 70, a partir de ocupação de terras devolutas por fazendeiros. Localizava-se a cerca de 50 km de distância da sede da Antiga cidade de Jacundá, no km 88 da PA-150. Nas narrativas de antigos moradores, as primeiras casas foram feitas no bairro Boa Esperança. O crescimento da vila acelerou-se a partir de 1977, vista que neste período o Departamento Estadual de Estrada e Rodagens, montou a estrutura próximo ao rio Arraias para dar início a construção da PA-150, inclusive a primeira rua do referido bairro tem o mesmo nome do departamento, (D.E.R), a chegada dessa empresa foi um marco para o crescimento da vila, haja vista que surgiram diversos comércios e serrarias visando atender as necessidades do acampamento. No que tange ao aumento de pessoas na vila, a mesma passa a ser predominantemente ocupada, por migrantes originários de diferentes regiões do Brasil. Esses diferentes sujeitos organizaram-se ao longo da estrada. 

De acordo com Edileuza Santos (2007, p.101), na década de 70 Arraias é predominantemente ocupada, sobretudo pelos maranhenses e baianos, mas também por paranaenses, mineiros, cearenses, pernambucano e capixabas entre outros, atraídos para a Amazônia com promessas de empregos e terra. As ruas da vila vão se delineando próximo ao rio e principalmente às margens da estrada. Constam na memória dos antigos arraienses dias muito difíceis, muitos conflitos de terras. O fluxo de pessoas era intenso e os problemas com falta de hospital, escolas, energia e segurança só aumentavam, conforme se intensificava a chegada de mais pessoas.

Já na década de 1980, a vila Arrais recebeu parte dos expropriados da velha Jacundá, onde hoje é o Bairro Centro e Eletronorte foram construídas algumas casas, e para além das casas também foram trazidos para a Vila Arraias, todos os órgãos públicos. Assim as ruas da vila Arraias aos poucos vão sendo abertas e novas ocupações espontâneas urbanas vão acontecendo. Porém na memória desses sujeitos sociais, a Nova Jacundá ou Arraias era muito ‘‘perigosa’’, porém muito animada. Nesse sentido, os festejos de São João Batista, o Charles Club, Cine Marrocos e Cine Guajará, o clube do Piriá, dentre outros ainda hoje são lembrados por muitos como espaços de memórias.

Referências: 
VALENTE, Dulcirene. A Terra da Intromisão: Experiências Sociais na remoção da cidade de Jacundá (1980-1990). Monografia (graduação)-Universidade Federal do Pará .Centro de Ciências Humanas Departamento de História, Belém (PA), 2003

SANTOS, Edileuza dos. Vila Arraias: Espaço de sobrevivência, morte e núcleo de organização na luta pela terra na PA-150 (1970- 1985).2007. Dissertação ( Mestrado)- Universidade Federal do Pará, Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Programa de Pós- graduação em História Social da Amazônia, Belém ( PA), 2007.

Comentários

  1. Olá Dulcirene...
    As discussões que se colocam para entender as singularidades das experiências históricas em cada lugar e em cada tempo são sempre instigantes e importantes. Há relevantes debates sobre o que seria uma história local; uma História regional. Há muitos artigos publicados sobre essa temática. Como você está entendendo o que você denomina de história local? (Prof. Eri Cavalcanti)

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    1. Professor Eri Cavalcanti, eu penso que a história local não pode ser vista como uma história “pequena” ou “isolada”, ela trata- se de um processo que possibilita para compreensão a cerca das realidades diversas de determinadas localidades e de seus habitante no tempo.
      Possivelmente dentro desse processo histórico, construir as suas identidades históricas e que mesmo com as diversidades todos merecem o mesmo respeito. Entendo que a história de Jacundá possa ter semelhanças e também diferenças relacionada com outros espaços, pois compreendo que não é o fato de Jacundá ser uma cidade do interior do sudeste paraense que a sua história servirá apenas para os seu munícipes, vista que devemos compreender que uma história local ela não constitui por si independente ou distante das dimensões local e nacional, haja vista que é necessário valorizar as experiências vivenciadas e relacioná-las ao local e ao nacional para assim contribuir para uma história menos reducionista ou dentro de uma perspectiva de localismo no processo histórico.

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    2. Oi Dulcirene...
      Entendi sua linha de raciocínio...
      Para continuar e ampliar o debate:
      Você considera e nomeia e história de Jacundá como História Local, correto? Se entendi, penso que sim, pelo que está escrito... sendo assim, gostaria de saber o que você entende e nomeia por História Local? Há muitos autores/as que têm feito importantes contribuições sobre esse debate, mas não aparecem em seu texto. Inclusive há autores que preferem não usar essa denominação. Assim, podemos refletir: a) O que define uma história local? b) Em que se constitui uma história local? c) quais os limites que constrói uma história local? d) É local em relação às dimensões físico-geográficas? e) Quem define e nomeia como local essa(s) história(s)? e) Em que se diferencia a chamada história local de uma história não local?
      Sobre identidade histórica, gostaria de saber o que você entende e nomeia por identidade histórica?

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    3. Professor Eri Cavalcante, obrigada pelos questionamentos, contribuiu muito acerca das reflexões que pretendo levantar nessa pesquisa, realmente sei que há muito a ser entendido, pois estou no início da pesquisa. Sobre a teoria de história local e regional, eu iniciei uma disciplina que irá tratar desses assuntos, estou fazendo levantamento bibliográfico e iniciei algumas leituras, inclusive tem um artigo de sua autoria que será de grande valia para a pesquisa. Mas com relação a identidade histórica, eu penso que seja a compreensão da nossa própria realidade, respeitando e encontrando direito a diferença, e elementos culturais próprios de uma sociedade que podem ser igualmente importantes para a coletividade, que privilegia um sentimento de pertencimento e se reconhece a partir de experiências individuais ou coletiva, contribuindo para construção de uma identidade histórica.

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  2. Dulcirene, você apresenta a possibilidade da produção de um jogo a respeito da História de Jacundá. Como seria esse jogo? Para quais turmas seria a indicação? (Profa. Anna Carolina Abreu)

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    1. Profa Anna Carolina Abreu, o jogo além de ser educativo, será também muito divertido, pois mostrará estrategicamente pontos de memórias que ao longo da pesquisa possivelmente irão destacar-se. Terá perguntas de múltiplas escolhas que de acordo com os acertos a pessoa vai fazendo um passeio pela Jacundá antes da construção da Hidrelétrica de Tucuruí, e conforme for avançando chegará na vila Arraias até chegar na cidade atual. Cada vez que conseguir acertar terá informações e curiosidades, contribuindo assim para com a história da cidade, que há muito tem sido esquecida. Com relação as séries, penso que poderá ser jogado por todos, por compreender que o conhecimento histórico e cultural não pode ser restrito, deve alcançar o máximo de pessoas, pois compreendo que possa contribuir com o sentimento de pertencimento e respeito e as diferentes experiências.

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  3. Dulcirene em seu texto de apresentação você coloca que o jogo possuirá um cenário onde as imagens da antiga Jacundá, seu processo de transformação e sua atual configuração geográfica estarão presentes. Como você pretende reunir as fontes, os documentos que darão base para os cenários do jogo?
    (Sebastiana Valéria dos Santos Moraes)

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    1. Valeria Morais, a pesquisa ainda está no início, as fontes ainda estão sendo coletadas, mas eu já estou desenvolvendo algumas atividades. Por exemplo, está em andamento entrevistas com ex moradores da Velha Jacundá e os antigos moradores da Vila Arraia. Na paróquia São João Batista encontrei o livro de tombo, (tem relatos e fotografias da vila Arraias), também irei utilizar algumas fotografias que são de meu acervo pessoa e também de arquivo pessoal de colaboradores que estão sendo de grande valia para a pesquisa.

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  4. Dulcirene Valente, logo no início do seu texto você menciona a preocupação, legitima a meu ver, em relação ao desafio de tornar as aulas de "história mais significativas" aos estudantes, por isso mesmo considero relevante seu projeto de pesquisa, "desenvolver como produto final um vídeo game". Parabéns! Gostaria de saber se você já tem acesso a algum referencial teórico que discuta essa temática (usos de vídeo game no ensino de história), caso já tenha quais são?

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    1. Maria Raimunda, a pesquisa ainda está no início, mas já estou elencando a pesquisa algumas leituras, que estão possibilitando uma compreensão a acerca da construção de um jogo como proposição para o ensino de história. Abaixo para apreciação, espero ter ajudado.

      BITTENCOURT, Ricardo João; GIRAFFA, Lucia Maria Role- Playing Games, Educação e jogos computadorizados na Cibercultura. Programa de Pós – Graduação em Ciências da computação. Pontifície Universidade Católica do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, 2003.

      CUNHA, Bruno Ornelas da. Jogo Urbano: história local no ensino de História. Dissertação de Mestrado apresentado ao Programa de Pós-graduação em Ensino História da Universidade federal Fluminense. Niterói, 2016.

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  5. Dulcirene Valente, logo no início do seu texto você menciona a preocupação, legitima a meu ver, em relação ao desafio de tornar as aulas de "história mais significativas" aos estudantes, por isso mesmo considero relevante seu projeto de pesquisa, "desenvolver como produto final um vídeo game". Parabéns! Gostaria de saber se você já tem acesso a algum referencial teórico que discuta essa temática (usos de vídeo game no ensino de história), caso já tenha quais são? (Maria Raimunda Santana Fonte)

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  6. Dulcirene,
    Parabéns pelo texto, gostaria de deixar uma sugestão de um jogo desenvolvido pela UFPA pode te interessar:
    Jogo educativo Revolta da Cabanagem
    autores:
    Ribeiro Filho, Manoel.
    Reis, Felipe Vaz dos.
    Damasceno, Ricardo Rodrigues.
    Silva, Fabricio Cardoso da.
    Nascimento, Messias José Amador do.
    Barata, Pebertli Nils Alho.
    Gonçalves, Maylson Lívio dos Santos.
    concepção
    O jogo foi desenvolvido no período de dezembro de 2006 a maio de 2009, pelo Laboratório de Realidade Virtual (LaRV). O Laboratório de Realidade Virtual é um grupo de pesquisa e desenvolvimento de aplicações 3D destinadas a diversas áreas. Vinculado à Faculdade de Engenharia de Computação da Universidade Federal do Pará, o LaRV atua desde 2003 sob a coordenação do professor Manoel Ribeiro Filho.

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    1. Obrigada, RONNY PYTERSON, a minha orientadora entrou em contato com o professor Manoel Ribeiro, se tudo der certo ele será o nosso grande parceiro, ainda estou dependendo do desenrolar da política no meu município, pois será necessária uma bolsa para os alunos orientados pelo professor Manoel. Assim que a Secretária de Educação for confirmada, irei apresentar o projeto, estou muito ansiosa para que tudo aconteça como estou objetivando.

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  7. Dulcirene, Parabéns pela sua pesquisa, sei que ainda está em fase inicial. A possibilidade da produção de um jogo para trabalhar o ensino de História local me chama a atenção, pois ajudaria aos professores a trabalharem o conteúdo de forma lúdica, interativa e prazerosa. Gostaria de saber se será possível trabalhar com esse jogo nos anos iniciais do ensino fundamental, ou se está voltado apenas para o ensino fundamental II e o Ensino Médio? Candida Lisboa Belmiro

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    1. Obrigada, Candida Lisboa, eu tenho pensado num jogo que seja para todos sem distinção, talvez eu esteja sendo muito pretenciosa, mas é isso que almejo. Também preciso conhecer como se da esse processo no campo tecnológico, tudo ainda está no campo das idéias, ainda não sei das possibilidades reais de alcançar todos os seguimentos. Assim que eu tiver contato com os especialistas de Engenharia de Computação, poderei te dar uma devolutiva com mais segurança.

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  8. Dulcirene, Parabéns por seu trabalho, gostei muito da temática.
    Observei sua preocupação em retratar as memórias dos moradores de Jacundá. Poderia comentar mais sobre as memórias que você pretende trabalhar na confecção do jogo?
    Aline Barros.

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    1. Obrigada, Aline eu penso que o registro de pluralidade de memórias sociais e culturais, será muito importante para a construção do jogo sobre a história de Jacundá. Primeiramente é necessário que saiba que a atual Jacundá está no local que anteriormente era conhecido como vila Arraias, a antiga Jacundá está submersa no lago da Usina de Tucuruí. Diante desse contexto, busco compreender como esses espaços de memórias foram sendo reelaborados na nova Jacundá, as permanências, as mudanças ao longo do tempo. Quando falo da memória de Jacundá velha são dos antigos moradores da Jacundá, que ficavam na margem do Rio Tocantins, da Arraias são dos antigos moradores da vila arraia, e dos jacundaenses são dos que aqui vieram pra melhorar de vida ainda no auge da construção da PA-150 e das madereiras, constituiram famílias e continuam a residir, convivendo e recriando novos espaços de memorias com os que aqui estavam. Essa separação aparece velada, é percebida nas entrevistas que estou realizando. Na primeira parte do jogo, quero recriar a Jacundá no cotidiano, antes da Hidrelétrica de Tucuruí. Destacando a festa da padroeira, as casas distribuídas nas duas ruas, os pedrais, a cachoeira do Itaboca, o garimpo, as lavadeiras, a rampa, e outros espaços que forem revelados. Já na segunda fase quero mostrar a construção das novas experiencias sociais no novo espaço, as mudanças, e as permanências, ou seja, as novas experiencias no novo espaço até os dias atuais.

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  9. Olá, Dulcirene! Não se assuste com o tanto de caracteres, não é uma pergunta. São sugestões. Então vamos lá. Gostei muito da sua pesquisa. Apesar de ainda estar em uma fase inicial, seu texto já demonstra o potencial do tema. Parabéns! Gostaria de te dar umas dicas de referências que eu tenho utilizado e têm me ajudado bastante, acredito que possa te ajudar também: há um texto do Professor Dr. Erinaldo Cavalcanti, aqui da UNIFESSPA, (CAVALCANTI, Erinaldo. História e história local: desafios, limites e possibilidades. Revista História Hoje, v. 7, n. 13, p. 272-292, 2018.), que te ajudará a pensar a categoria “história local”. Também tem um texto de Pierre Nora (NORA, Pierre. Entre Memória e história: a problemática dos lugares. Revista projeto História, São Paulo, n. 10, dez 1993) que lhe dará uma força para pensar os “espaços de memória” mencionados em seu texto, ou “lugares de memória” como é preferido por Nora.
    Acredito que será interessante para seu trabalho aprofundar na contextualização (já iniciada por você) de como se davam as relações cotidianas dessa comunidade e quanto foi “drástica” para o modo de vida dessa população ribeirinha, pescadora, garimpeira, essa mudança ao ser remanejada para a margem de uma estrada, tão distante do rio. Aprofundar também como se situa essa Hidrelétrica de Tucuruí em um discurso desenvolvimentista, e que sua ocorrência está atrelada à viabilização do Projeto Grande Carajás, é bastante relevante para a perspectiva de sua pesquisa. Certamente está pensando nisso, mas gostaria de dar essa ênfase.
    Nesse sentido, o historiador Dr. Peri Petit, professor da UFPA tem uma obra (PETIT, Pere. Chão de promessas. Elites políticas e transformações econômicas no estado do Pará pós-1964.Paka-tatu, 2003.), que pode te ajudar sobre a ocupação da Amazônia. E o professor Dr. Cristiano Bento da Silva, Unifesspa, tem uma pesquisa interessante sobre as relações de poder e conflito relacionadas a esses processos de implantação de hidrelétricas na região.
    UMA DICA DE FONTE: antes de Jacundá, Ipixuna, e outras comunidades ribeirinhas serem tomadas pelo lago da Hidrelétrica de Tucuruí, um grupo chamado GEMA (Grupo Ecológico de Marabá), que posteriormente deu origem à FCCM (Fundação Casa da Cultura de Marabá) desenvolveu um projeto chamado Projeto Jacundá, coletaram objetos, entrevistas, etc., de moradores desses povoados. Esse acervo se encontra distribuído em alguns setores da FCCM. Penso que acessar esses arquivos podem te ajudar bastante.
    Sobre o jogo, em setembro de 2016 foi lançado um jogo virtual na Biblioteca Mário de Andrade, em São Paulo (SP), chamado Trilha Cultural. Apresenta os patrimônios culturais, contando um pouco da história e da identidade cultural do Brasil. Esse jogo roda no celular e é bem interessante. Acredito que possa te servir de inspiração.
    Não farei pergunta, pois os colegas já levantaram questões bem pertinentes a serem refletidas por você. Novamente parabéns pela pesquisa, e espero ter ajudado. Um abraço!

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    1. Realmente foi um susto, kkkkk obrigada pelas indicações, acredito que todas serão de grande relevância para o desenvolvimento da pesquisa. Muito obrigada, ajudou sim. Um abraço!!

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  10. Parabéns por sua pesquisa e orientação. Venho percebendo o quanto os trabalhos dos mestrandos aqui na região, vêm pensando a história local. Isso é por demais interessante, articular essa Amazônia que não aparece ou é lembrada na sala de aula. Por motivos diversos, indo desde o livro didático ou até mesmo atividades propostas pelo Projeto Político Pedagógico. Agora fiquei pensando como você está articulando essa história local com a Educação Patrimonial?

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    1. Obrigado, Professor. Acredito que trabalhar com educação patrimonial é possível, desde que o professor/pesquisador consiga transformar a educação patrimonial num instrumento para sensibilizar o aluno. Na cidade de Jacundá existe uma ideia de alguns jovens que a nossa cidade não tem história, que ela não tem lugares importantes, (acreditam que só cidades antigas possuem um rico patrimônio histórico), portanto trabalhar com a história local pode ser uma maneira de apresentar esse conhecimento histórico sobre a cidade que vivem, penso que se eles não olharem para esse espaço como um lugar importante, é preocupante, pois se eles sentem que não há história, não há o que preservar. Acredito que o primeiro passo é fazer com que os alunos compreendam que tudo que é produzido por grupos sociais torna-se um legado cultural, conforme atravessa o processo de permanência no tempo histórico. Partindo do próprio jogo que pretendo produzir, podemos usar como parâmetro para o aluno poder visualizar o que seria um patrimônio, a partir desse encontro instigar a desvendar espaços de memórias que permanecem, mudaram, ou que foram perdidos no tempo durante o crescimento da cidade.

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  11. Boa noite, Dulcirene.
    Sua pesquisa me chamou muita atenção. Sou Jacundaense, morei até meus 25 anos em Jacundá e nunca estudei sobre a história local no componente curricular de história. Diante disso lhe pergunto, quais as possíveis estratégias para que esse conhecimento seja ampliando, alcançando outras escolas? Tendo em vista que o conhecimento da história local auxilia e dinamiza o processo de ensino-aprendizagem dessa disciplina, desenvolvendo nos alunos uma consciência histórica e valorização patrimonial, o tema que você aborda é de extrema relevância para os estudantes, principalmente os que nasceram e moram na cidade. Tem alguma possibilidade de inserção dessa temática “história local” na proposta curricular do município?

    Paulo Pereira dos Santos

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    1. Boa tarde, Paulo.
      Sim, desde 2013 houve a preocupação de colocar no currículo municipal o ensino de história local. Está distribuída entre as disciplinas de História e Estudos Amazônicos. No entanto, ainda pouco utilizado. Acontece de forma isolada em algumas escolas.

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