HISTÓRIA LOCAL NA BNCC: UMA ABORDAGEM POUCO ESSENCIAL

Luis Lima de Sousa. Programa de Pós Graduação em História. Mestrando. Unifesspa. E-mail: luis.lima123@hotmail.com
Geovanni Gomes Cabral. Programa de Pós Graduação em História. Doutor. Unifesspa. E-mail: geovannicabral@unifesspa.edu.br

Considerações Iniciais
Esse texto faz parte de alguns desdobramentos da pesquisa de mestrado que estamos desenvolvendo na linha de Ensino de História, Narrativas e Documentos do Programa de Pós Graduação em História (PPGHIST) da Unifesspa. Nessa investigação temos a intenção de saber o que lecionaram sobre a história local, os professores e professoras de história de duas escolas do município de Parauapebas / PA. Para esse intuito vamos, nesse texto, verificar a pertinência do ensino de História Local em dois documentos: a Basa Nacional Curricular Comum (BNCC) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) de História, tendo como foco o terceiro e quarto ciclo do Ensino Fundamental.

Bittencourt (2018) e Mathias (2011) direcionam suas pesquisas para a educação no Brasil de uma forma geral e consequentemente para o ensino de história. Seus textos são lidos e debatidos por nós como referência para pensar e problematizar o ensino. Mostrando como os conteúdos e a leitura que se tem da disciplina passou por mudanças desde sua constituição enquanto disciplina no século XIX até os dias de hoje. Nesse sentido o Ensino de História passou por modificações nos mais variados contextos, desde a prática pedagógica na sala de aula até a formação de professores. As matrizes curriculares dos cursos de licenciatura, muito lentamente passaram por alterações, inclusive as disciplinas de didática e metodologia, em algumas instituições de ensino deixaram de ser ministradas por professores da área da educação, para serem ministradas por historiadores. Ponto importante para pensar a pesquisa e o uso de fontes documentais na sala de aula.

A história local é entendida nesse trabalho enquanto abordagem. Mas, afinal, qual seria a especificidade e proposta dessa modalidade de estudo e ensino?

O ensino de História local vem, de certa forma, romper com esta visão tradicional em que se priorizava o estudo da chamada “História Geral da Civilização Brasileira”, na tentativa de se passar para nossos alunos a ideia de um Brasil homogêneo, sem diferenças, conflitos e contradições sociais e um passado unívoco a ser “decorado” e utilizado apenas nos exames e arguições. Queremos, pois, uma História que resgate as peculiaridades e especificidades regionais e dê conta da pluralidade étnico-cultural de nossa formação histórica. (FERNANDES, 1995, p. 46).

A visão desse autor não é a de defender o ensino de aspectos locais apenas em detrimentos de outros, ditos gerais. A intenção é evidenciar a pluralidade dos locais em que o (a) discente está inserido (a). É nessa diversidade que reside a riqueza de se aprender sobre o ser humano no tempo, seja qual for o espaço em que está inserido. Para Fernandes o ensino de história tomando como pressuposto o social e o local, permite o fortalecimento da identidade e formação da cidadania de quem aprende (FERNANDES, 1995, p. 46). 

Dentre as metas destacadas por ele para a história local, estão a de inserir o (a) aluno (a) na realidade da comunidade em que vive, para que ele (a) possa melhor compreendê-la e intervir. Outro objetivo é fazer o (a) discente perceber as redes locais de relação política e social. Construindo, assim, mecanismos de análise dos jogos de interesses e poder presente na localidade na qual reside e vive.

A pertinência de se estudar a localidade e suas práticas culturais é uma possibilidade de encontrar outras narrativas além daquelas pressentes nos livros didáticos de história, que por sinal tem sua produção e editoração no eixo sudeste do país. Conta-se mais sobre a história da Europa, Rio de Janeiro e São Paulo, que temáticas da própria região Amazônia, por exemplo. Nesse sentido o ensino de história local permite a agregação de outras formas de narrativas, outras abordagens. Por isso é importante compreender como essas questões estão postas em alguns documentos a níveis nacionais, em nosso caso aqui, optamos mais precisamente para a BNCC.

A História Local na Base Nacional
A aprovação da BNCC passou por um processo complexo e contraditório. Entretanto o documento, logo nas suas páginas iniciais afirma ter sido gestado dentro de um ambiente de debate e diálogo com os diversos segmentos da sociedade, inclusive com pessoas ligadas a educação (BRASIL/BNCC, 2017, p. 05).

Isso pode ser entendido como uma tentativa de dar legitimidade a um documento, o qual, segundo Gildate (2018), foi aprovado frente a alguns embates e contradições. Essa mesma autora apresenta algumas manifestações publicadas pela Anpuh (Associação Nacional de História) com críticas aos diversos textos da BNCC (GILDATE, 2018, p. 45-47). 

Para Bittencourt (2018) a construção dessa Base é pautada e definida em diálogo com órgãos internacionais, como o Banco Mundial. As universidades são praticamente excluídas do processo. Nesse sentido “O controle dos currículos pela lógica do mercado é, portanto, estratégico e proporciona o domínio sobre o tempo presente e futuro dos alunos” (p. 144). Assim a aprovação da reforma do ensino médio e a BNCC colocam a educação novamente sob tendências tecnicistas e visando o mercado de trabalho (GILDATE, 2018, p. 37).

A Base teve sua última versão aprovada em 17 de dezembro de 2017 e foi instituída cinco dias depois pela resolução do Conselho Nacional de Educação / Conselho Pleno Nº 2, em 22 de dezembro de 2017. Assim a BNCC tem por objetivo moldar e definir os conteúdos a serem ensinados em instituições de ensino públicas e privadas.

O documento aqui analisado enfoca a educação infantil e o ensino fundamental. O ensino médio não está presente pois passa por uma reformulação, a qual não é nosso objetivo analisar aqui. Na BNCC a história, enquanto componente curricular, divide espaço com a Geografia e formam a Área de Conhecimento denominada Ciências Humanas. 

Direcionamos nossa atenção para algumas das habilidades voltadas para a história local presentes nos Anos Finais do ensino fundamental, ou seja, 6º ao 9º ano. Nos quatro anos dessa etapa a BNCC apresenta 99 habilidades. Elas estão divididas da seguinte forma: 

Quadro 1 - Divisão das Habilidades nos Anos Finais do Ensino Fundamental

Ano de Ensino Fundamental

Quantidade de Habilidades

6º Ano

19

7º Ano

17

8º Ano

27

9º Ano

36

Fonte: Elaboração do autor

No quadro acima é possível perceber a discrepância na quantidade de habilidades entre cada um dos anos mencionados. Se observarmos o sétimo e o nono ano, os que possuem menos e mais habilidades, respectivamente, a diferença entre os dois é de 19. É uma quantidade no mínimo curiosa, pois é a mesma prevista para todo o sexto ano. Não estamos aqui defendendo que existisse uma quantidade exata de habilidades em cada ano, mas a assimetria chama a atenção. Principalmente porque todas essas habilidades estão inseridas em um contexto anual, dividido por bimestres, como observamos nas unidades de cada escola. O aumento dessas habilidades, tem um certo impacto no ensino e aprendizagem. 

Ao observar aquelas habilidades que assinalam para a história local conseguimos identificar cinco. Elas estão descritas no quadro abaixo: 

Quadro 2 – Habilidades que assinalam para história local

Habilidades

(EF09HI02) Caracterizar e compreender os ciclos da história republicana, identificando particularidades da história local e regional até 1954.

(EF09HI05) Identificar os processos de urbanização e modernização da sociedade brasileira e avaliar suas contradições e impactos na região em que vive.

(EF09HI06) Identificar e discutir o papel do trabalhismo como força política, social e cultural no Brasil, em diferentes escalas (nacional, regional, cidade, comunidade).

(EF09HI18) Descrever e analisar as relações entre as transformações urbanas e seus impactos na cultura brasileira entre 1946 e 1964 e na produção das desigualdades regionais e sociais.

(EF09HI33) Analisar as transformações nas relações políticas locais e globais geradas pelo desenvolvimento das tecnologias digitais de informação e comunicação.

Fonte: Elaboração do autor

Entre as cinco habilidades, apenas em uma, o termo “história local” aparece expressamente. Sendo essa, ainda, a única ocorrência da expressão em toda a BNCC. As outras quatro habilidades relacionam em alguma medida o aspecto histórico na sua dimensão local. A Base apresentar-se como “[...] um documento plural, contemporâneo, e [que] estabelece com clareza o conjunto de aprendizagens essenciais e indispensáveis a que todos os estudantes, crianças, jovens e adultos, têm direito” (BRASIL/BNCC, 2017, p. 05, grifo nosso). Mas, apenas 5% das habilidades dos Anos Finais são voltadas para a abordagem de questões locais.

É possível que se afirme que essas habilidades deveriam ficar a cargo de estados e município, mas essa assertiva não eliminaria, a nosso ver, a possibilidade da Base em nível nacional sinalizar para essas questões nos Anos Finais. Ao optar por não fazê-lo reforça ainda mais seu caráter homogeneizador e centralizador. Demostrando que entre as aprendizagens ditas essenciais, as que privilegiam aspectos locais não são tão expressivas. 

Isso vai na contramão do que afirma os Parâmetros Curriculares Nacionais ao defender o estudo do meio:

É no local, conhecendo pessoalmente casas, ruas, obras de arte, campos cultivados, aglomerações urbanas, conversando com os moradores das cidades ou do campo, que os alunos se sensibilizam para as fontes de pesquisa histórica, isto é, para os materiais. sobre os quais os especialistas se debruçam na interpretação de como seria a vida em outros tempos, como se dão as relações entre os homens na sociedade de hoje, como o passado permanece no presente ou como são organizados os espaços urbanos ou rurais. O estudo do meio é, então, um recurso pedagógico privilegiado, já que possibilita aos estudantes adquirirem, progressivamente, o olhar indagador sobre o mundo. (BRASIL, 1998, p. 94).

De acordo com o PCN a base para o conhecimento histórico parte da localidade. O ensino de história no nível fundamental permite a formação de um raciocínio focando não somente no individuo, mas na coletividade. Assim a aprovação da reforma do ensino médio e a BNCC colocam a educação novamente sob tendências tecnicistas com uma visão mercadológica de trabalho e resultados. (GILDATE, 2018, p. 37).

Considerações Finais
É possível perceber o pouco espaço dedicado as questões locais e sua história, na BNCC aprovada. E por mais que esses direcionamentos se façam presentes em estados e município, sabemos o quanto os livros didáticos estão sendo editados, ofertados e distribuídos nas escolas da Educação Básica. Mesmo diante de todo processo de escolha desse material, vamos encontrar em suas páginas narrativas, imagens e palavras onde o discente não se ver inserido. 

Ao optar por outras questões sem propor diálogo com a localidade o documento reforça seu caráter homogêneo e centralizador. Pois define, em suas palavras, aquilo que é essencial de se aprender em história. Devido a quantidade de habilidades propostas para os Anos Finais do ensino médio ser inversamente proporcional as horas semanais disponíveis para aulas de história, é pouco provável que elas sejam aplicadas e desenvolvidas por completo. E é possível que quem se aventurar a propor questões locais em suas aulas, pode ser cobrado por não está privilegiando ou direcionando, o que já está regulamentado como essencial na BNCC. 

Referências 
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Reflexões sobre o ensino de História. Estudos Avançados, [S. l.], v. 32, n. 93, p. 127-149, 2018. Disponível em: http://www.revistas.usp.br/eav/article/view/152562.

BRASIL. Ministério da Educação. Base Nacional Comum Curricular – BNCC –. Brasília, DF, 2017.

BRASIL/SECRETARIA DE EDUCAÇÃO FUNDAMENTAL – Parâmetros Curriculares Nacionais Terceiro e Quarto Ciclos do Ensino Fundamental: História. Brasília, MEC/SEF, 1998.

FERNANDES, José Ricardo Oriá. Um lugar na escola para a História local. Ensino em Re-vista, v. 4, p. 43-51, jan./dez. 1995.

GILDATE, Lara Ximenes. Diálogos entre História Local e o Ensino Fundamental – 2º segmento: propostas de inserção curricular em Casimiro de Abreu/RJ. 91f. Dissertação (Mestrado Profissional em Rede Nacional PROFHISTORIA). Universidade do Estado do Rio de Janeiro, São Gonçalo, 2018

MATHIAS, Carlos Leonardo Kelmer. O ensino de História no Brasil: contextualização e abordagem historiográfica. História Unisino. v. 15, n; 1, p. 40-49, jan./abr. 2011. Disponível em: http://revistas.unisinos.br/index.php/historia/article/viewFile/959/163.

Comentários

  1. Luís...
    Fiquei a pensar algumas questões que compartilho aqui:
    a) Você expressa no início que deseja analisar "o que lecionaram sobre a história local, os professores e professoras de história de duas escolas do município de Parauapebas / PA". E para realizar tal intento, vai recorrer a dois documentos que versam sobre o ensino de História Local a "Base (no texto está BASA) Nacional Curricular Comum (BNCC) e os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN’s) de História, tendo como foco o terceiro e quarto ciclo do Ensino Fundamental.
    A primeira questão: como você irá proceder a análise desses dois documentos para saber se o que os professores/as ministraram ou não de História Local? Me parece que esses dois documentos prescritos não darão conta de vc entender nas duas escolas como o que se trabalhou de História Local. Que analogias vc pode estabelecer para afirmar (ou não) que houve tal ensino de História Local nas duas escolas tomando por base esses dois documentos?
    b) A segunda questão: A BNCC foi recentemente aprovada, assim qual seria o recorte de tempo que vc privilegiaria para fazer essa análise entre o documento oficial, prescrito, sua aplicação e execução de modo a encontrar alguma relação permita perceber que ocorreu ou não o ensino de História Local (que considero não ser viável, pois teria que recorrer a outros documentos como diário de classe, entrevista, plano de trabalho do docente, etc, etc).
    c) Há uma ampla discussão sobre o que se define e entende por história local (inclusive quem não advogue sua existência, ao menos da maneira como corriqueiramente é associada, qual seja, aquela história "pequena", "distante" e "restrita" a uma "diminuta dimensão geográfica") e as referências acionadas não apontam para essas questões. Te pergunto: o que de fato é uma história local? em que se diferencia de uma história local? quais os parâmetros para dizer que "essa" é local e "aquela" não é local? Local para quem - para os sujeito s que dela e nela vivem ou para o pesquisador que lança mão desse conceito? Local para que? Qual o referente?
    Queria saber como você tem pensado essas questões...

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    1. Oi, professor Erinaldo. Obrigado pela leitura atenta, sugestão de correção da palavra “Base” e pelas três perguntas. O limite de caracteres por comentário me obriga a dividir a resposta em 3 partes.
      [1º Parte]
      Quero tomar a liberdade de unir as duas primeiras e responde-las em conjunto. Pois acredito que são questões que dialogam.
      De início, acredito que não deixei muito claro a proposta do texto no primeiro parágrafo. A intenção seria mostrar qual minha pesquisa de mestrado na Unifesspa (saber o que lecionaram sobre a história local, os professores e professoras de história de duas escolas do município de Parauapebas / PA) e qual o objetivo desse texto para o V Encontro de Pós Graduação (verificar a pertinência do ensino de História Local em dois documentos BNCC e os PCN’s de História, tendo como foco o terceiro e quarto ciclo do Ensino Fundamental).
      Talvez a forma como o escrevi tenha gerado a expectativa de respostas para a primeira questão, quando o texto se concentrou em atentar para o segunda.
      Optei por esses dois documentos, pois, se tivesse o objetivo de tratar de todo o questionamento principal o texto não daria conta. O trabalho da dissertação tem, a princípio, o recorte temporal de 2008 a 2018, para tentar compreender o ensino de história local nas escolas escolhidas. Isso não significa que elas se restringem a esse espaço de tempo, mas acreditamos que em dez anos podemos encontrar algumas questões pertinentes. Podendo esse prazo mudar para mais ou menos a depender das fontes, principalmente os (as) entrevistados (as).
      Assim o recorte para pensar a BNCC (2017) e os PCN’s (1998) surge nesse texto como uma parte das problemáticas do trabalho principal. O primeiro documento está “inserido” temporalmente dentro de nosso recorte, o segundo é anterior. Mas acreditamos que ambos permeiam a discussão da educação em períodos anteriores e posteriores a sua aprovação. Não no sentido de uma imediata aplicação do que foi editado, mas de fazer parte do complexo campo que é o ensino. Assim discussões referentes a BNCC e aos PCN’s farão partes de nossas entrevistas e permearão, de certa forma, alguns dos documentos que mobilizamos (Plano Municipal de Educação, Projetos Políticos Pedagógicos, Propostas de Planejamentos, Conteúdos Programáticos de História, etc.). A opção por analisar no texto documentos a níveis nacionais foi para tentar perceber como eles expressam a pertinência do ensino de história local, em quais series e períodos. Foi possível perceber que a BNCC concentra sua atenção para essa questão apenas no 9º. Não buscamos saber sua aplicabilidade nas escolas que estudamos, pois o município, segundo informações preliminares, ainda está se adequando a esse documento. (Luis Lima de Sousa)

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    2. [2º Parte]
      Nossa intenção foi somente perceber a pertinência que esse documento dá a história local nos Anos Finais do ensino fundamental. Cientes de que nosso trabalho se insere, de certa forma, dentro da chamada História do Tempo Presente, na qual há uma gama de processos, narrativas e questões em curso. Não poderíamos nos furtar de analisar um documento que é tão debatido, contraditório e com tendências a hegemonização do ensino somente por ter sido aprovado em 2017 e não ter sido aplicado nos anos que pesquisamos. Pois acreditamos que esteve presente em discussões anteriores a esse ano. Não estamos defendendo que os professores que por nós serão entrevistados foram decisivos na elaboração do que está posto na BNCC aprovada, mas por ser um documento que diz respeito a sua pratica docente a nível nacional, é de se esperar que ele faça parte do debate para se pensar o ensino de história, inclusive sobre o ensino de história local. Assim a BNCC aprovada pode servir de contraponto analítico para o que vinha sendo trabalhado em escolas do município de Parauapebas, nesse sentido pode surgir algumas questões, como: será que o ensino de história local já era concentrado somente no 9º ano? Como os (as) professores (as) avaliam essa mudança? Como era sua pratica nos outros anos em relação a questões locais?
      Nesse sentido acreditamos que as narrativas mobilizadas não estarão circunscritas ao recorte proposto, pois estarão inseridas em temporalidade como o passado, o presente e o horizonte de expectativas. Sendo inclusive a pandemia em curso um fator a ser pensado e mobilizado em nossa escrita. (Luis Lima de Sousa)

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    3. [3ª Parte]
      Em relação a terceira pergunta, concordo que a discussão sobre história local é ampla e complexa. Sendo, por isso mesmo, difícil definir o que de fato ela seria. Assim, podemos arriscar algumas colocações, inquietações e discussões. Vamos a elas.
      No texto mobilizamos um autor Fernandes (1995), o qual defende uma visão com a qual temos a tendência de concordar: a história local não está em oposição a uma história geral, mas visa romper com narrativas que buscam homogeneizar a história. Trata-se de uma tentativa de propor questões plurais, peculiares e/ou especificas.
      Como muito bem apontado na sua questão há diversos trabalhos que pensam e debatem a história local. Como por exemplo “SANTOS, Flávio Batista dos. O ensino de história local na formação da consciência histórica: um estudo com alunos do ensino fundamental na cidade de Ibaiti-PR. Londrina, Dissertação, 2014, 130 f”, na qual ela mobiliza autores que põem a história local além de um determinismo geográfico ou recorte espacial fixo. Outros como “CARVALHO, Carlos Henrique de. A história local e regional: dimensões possíveis para os estudos histórico-educacionais. Cadernos de História da Educação. N. 6, jan./dez. 2007, p. 51-69” aponta que a ação humana não pode ser vista e estudada tão e somente a partir de aspectos globalizantes, sem levar em consideração singularidades e particularidades. Novamente, não se trata de abordar o local em detrimento do global. No caso do texto em questão o autor diz que não faz uma História da Educação regional e sim História da Educação brasileira com ênfase no regional. Por fim, para não me alongar nesse primeiro momento da resposta, cito “CAVALCANTI, Erinaldo. História e história local: desafios, limites e possibilidades. Revista de História Hoje, v7, nº 13, 2018, p. 272-292”, texto no qual esse debate está presente, e ao final há uma sugestão que nos é cara: não concentrar esforços em limites e demarcações, mas atentar para as configurações locais da história que estudamos. Sendo essa um dos questionamento que nos colocamos em relação a BNCC, pois como vimos apenas em 5 habilidades essas configurações da história em sua dimensão local são expressamente ditas e propostas.
      Em nossa pesquisa optamos, inicialmente, por não definir o que de fato deve ser ou não entendido por história local, pois, um de nossos objetivos é justamente perceber como nossas fontes (documentos mobilizados, entrevistas) compreendem a história local. Nesse sentido buscamos perceber quais questões são elencadas dentro dessa abordagem, quais documentos e narrativas foram mobilizadas em aulas, quais aspectos foram enfocados? Em outras palavras, o que entendem por história local as narrativas presentes no local que pesquisamos? (Luis Lima de Sousa)

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    4. Luís querido...
      Parabéns pelas colocações. Foram bem explicativas. Sobre as duas primeiras, com elas ficaram explicadas as questões que me levantaram dúvidas ao ler o texto, que inicialmente, não estava claro ou "entendível" sobre o que realmente estava se propondo a refletir nesse texto. Sobre a última, em relação à história local, também você se colocou muito bem. Parabéns. Teremos uma excelente dissertação...

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  2. Luis,
    A questão local é bastante complexa, você escreve bem e faz uma boa análise do tema nos documentos. Porém, para o seu objetivo de uma analise da História local em Parauapebas, seria interessante partir do local, ou seja da documentação presente nos arquivos escolares (diários de classe) ou de entrevistas com os professores. Você vislumbrou essa possibilidade? (Profa. Anna Carolina Abreu)

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    1. Oi, professora Anna, agradeço sua pergunta, elogios e indicações.
      Parte da sua pergunta eu respondi acima para o professor Erinaldo. Em resumo: para o texto desse evento, talvez, eu tenha deixado pouco claro que o objetivo fosse perceber como a história local está compreendida na BNCC nos anos finais do ensino fundamental.
      Em relação as fontes para partir do local, concordo com suas indicações. Dentre as que iremos mobilizar estão os Projetos Políticos Pedagógicos, Propostas Curriculares do Município vigentes nos anos pesquisados (2008 a 2018), Plano Municipal de Educação, entrevistas com docentes de duas escolas de Parauapebas. As escolas serão de dois bairros mais antigos da cidade (Rio Verde e Cidade Nova), e que de certa forma estão inseridas em narrativas sobre o passado do município. Devido as pandemia em curso e as consequências para a educação básica não realizamos as entrevistas ainda. Mas os primeiros contatos com as escolas e a Secretaria Municipal de Educação já foram estabelecidos, inclusive recebemos alguns dos documentos já citados acima. (Luis Lima de Sousa)

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  3. O seu trabalho tem grande relevância quando trata de um tema tão atual que é a BNCC. Minha dúvida é saber se em Paraupebas ocorreu alguma escuta pública com a base dos educadores para propor e contribuir na inserção de novos códigos da habilidades locais. Em Marabá, por exemplo, em que pese, os problemas ocorreu uma "escuta pública" aberta a contribuições da sociedade e da base da educação. - Joyce Cordeiro Rebelo

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    1. Olá, Joyce. É um prazer receber sua pergunta e elogios ao trabalho desenvolvido.
      A informação que temos, de forma preliminar, é que a BNCC ainda não implantada totalmente no município. O processo estaria previsto para acontecer nesse ano de 2020, mas logo no inicio houve a pandemia, modificando muitos planejamentos em relação a educação, nesse caso a Educação Básica. Não sei informar se houve alguma consulta pública nos anos de 2018 e 2019. Inclusive anotei seu questionamento para fazer durante as entrevistas e na pesquisa com as fontes. Grato, novamente, pela sugestão e leitura do trabalho. (Luis Lima de Sousa)

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  4. Luís,
    Parabéns pelo trabalho. Discussões sobre a BNCC são bastante espinhosas. Eu gostaria de saber se em suas entrevistas com docentes das duas escolas que pesquisa, se você já fez questionamento sobre a BNCC? Eles e elas participaram das discussões da Base ou só receberam e acataram? Como fizeram pra adequar as questões regionais? Vera Lima

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    1. Oi, Vera. Obrigado por sua pergunta E por compartilhar comigo a percepção da complexidade de fontes como a BNCC. Os questionamentos aos (as) entrevistados (as) referente a BNCC ainda não ocorreram, em virtude, principalmente da pandemia. Mas as essas inquietações farão parte de nosso roteiro de entrevistas. Pois, acreditamos que o debate em relação a BNCC permeou o campo educacional nos últimos anos. Portanto, compreender as narrativas de nossos (as) entrevistados (as) sobre esse documento pode não ser o objetivo principal de nossa pesquisa, mas certamente a enriquecerá e tornará os debates e questionamentos mais pertinentes e relevantes. Obrigado pela sugestão. (Luis Lima de Sousa)

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  5. Parabéns Luis, seu trabalho tem uma enorme relevância por ser tratar de debates sobre as implementações das políticas educacionais no âmbito educacional. Você trás o debate de História Local a partir desses documentos oficiais, gostaria de saber como você selecionou o recorte temporal e suas fontes com base seu objeto de estudo?
    Alan Martins

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    1. Oi, Alan. Obrigado pela pergunta.
      O recorte de nossa pesquisa são, inicialmente, os anos de 2008 a 2018. Esse período foi escolhido por nós para buscar compreender algumas mudanças e tendências em relação ao ensino de história, mais especificamente o ensino de história local. Acreditamos ser um período que der conta dessas questões, mas não as encerram. Pois, por exemplo, nesse tempo houve troca de administrações no executivo municipal e em secretarias como a da educação, o que pode indicar mudanças nas diretrizes educacionais, vale lembrar que essa mudanças não refletem necessariamente alteração na pratica docente, sendo muito os fatores presentes na sala de aula. Ressaltamos que esses recortes podem ser flexibilizados, pois, por exemplo, podemos encontrar nas duas escolas somente professores (as) que estão no município a cerca de 05 anos. O que nos sugeriria a uma mudança de recorte, ao optarmos por direcionar nossos esforços para compreender as narrativas de professores que ainda estejam atuando nas escolas ou que nelas atuaram por um certo período, dentro do recorte inicialmente proposto. (Luis Lima de Sousa)

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  6. Sua pesquisa é muito importante para o Ensino de História na nossa região, que precisa urgentemente repensar suas práticas. Enquanto lia o seu texto me lembrei que em Xinguara o Ensino de História local apareceu algumas vezes, pelo menos aqueles com os quais pude contribuir como um movimento de resistência dentro da escola por meio da atuação de mediadores. A Comissão Pastoral da Terra e a Organização não governamental Repórter Brasil por exemplo, são duas intuições que se fizeram presente nas escolas aqui em Xinguara a fim de propor conteúdos e estratégias de ensino e formar professores para o ensino local e ao mesmo tempo divulgar a existência do trabalho escravo contemporâneo e combater as práticas desse trabalho na região. A CPT e a Repórter Brasil com certeza tem um acervo muito bom a respeito. Eu penso que algumas práticas de Ensino que desenvolvi a partir das reflexões que fazia na graduação sobre a necessidade de pensar/resolver problemas da comunidade e da escola por meio do ensino de historia também trilharam por esse caminho de resistir ao currículo elaborado pela secretaria municipal. Imagino que aqueles professores que aderem essa prática, e isso precisa ser investigado (veja bem, isso é uma impressão pessoal, baseada na minha experiência em sala de aula), são aqueles que entendem a necessidade de se posicionar diante da imposição do currículo. Sem consciência disso penso ser impossível uma prática que não reproduza os currículos tal como são apresentados.

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    1. Oi, Barbara. Muito obrigado pelo comentário.
      Não conhecia esse trabalho relacionado a CPT e ao Repórter Brasil. Inclusive anotei aqui para investigações futuras. Compartilho com você a ideia de que o ensino de história precisa ser repensado. (Luis Lima de Sousa)

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  7. Parabéns pela proposta da temática vinculada com a BNCC algo tão recente e que nós docentes estamos nos adequando. O ensino de história ainda não é valorizado como deveria. E nos tempos atuais que estamos vivendo faz se necessário repensar, sim. No entanto no município que atuo em Castanhal não vejo esse trabalho voltado para a localidade. A maioria dos professores se preocupam ainda em utilizar as temáticas do livro didático. A BNCC ainda é um desafio a ser entendido e colocado em prática.

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    1. Oi, Sulimaura. Agradeço por suas colocações.
      Concordo com suas inquietações. E acredito que um dos passos para repensar o ensino de história é justamente desnaturalizá-lo e deixar de o praticar de forma a somente se preocupar com conteúdo. (Luis Lima de Sousa)

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  8. Olá, Luis! Parabéns pelo trabalho. Notei que nossas pesquisas compartilham uma ou outra fonte, categorias mobilizadas e consequentemente algumas referências, inclusive aproveitei para anotar algumas que me serão úteis. Em relação às entrevistas, você informa que ainda não foram realizadas por conta da Pandemia, esse quadro realmente tem sido obstáculo para nós que temos entrevistas como parte da metodologia. Tendo vista a possibilidade de manutenção desse quadro pandêmico por alguns meses ainda, quais estratégias tem pensado para contornar essa limitação?

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    1. Oi, Ramon. Obrigado pela leitura do texto e por suas colocações.
      Em primeiro lugar é sempre bom encontrar pesquisas que dialogam com nosso trabalho. Abre possibilidades de debates e aprofundamentos. Inclusive pode contar comigo para compartilhar inquietações, leituras e bibliografias.
      Em relação a sua pergunta, acredito que uma das estratégias possíveis (e aqui compartilho uns dos métodos realizados por Barbara, uma das mestrandas de nosso curso) serão as entrevistas de forma remota. Com todas as implicações que esse tipo de entrevista impõe. Para os entrevistados que se sentirem a vontade acredito ser possível realizar as entrevistas respeitando as medidas de prevenção. Ou até mesmo entrevistas por escrito. Cada uma dessas estratégias abre uma imensa possibilidade de analise e questões. (Luis Lima de Sousa)

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