EDUCAÇÃO PATRIMONIAL NO ENSINO DE HISTÓRIA: A HISTÓRIA LOCAL NA FESTA DO DIVINO ESPÍRITO SANTO NO SÉCULO XXI NA CIDADE DE MARABÁ-PA
Ramon de Souza Cabral
ramonkabral@unifesspa.edu.br
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará
Geovanni Gomes Cabral
Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará
Essa apresentação faz parte de uma pesquisa que está em fase inicial de desenvolvimento para uma dissertação de mestrado no Programa de Pós-Graduação em História – PPGHIST, da Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará – UNIFESSPA, na Linha de Pesquisa Ensino de História, Narrativas e Documentos, sob orientação do professor Geovanni Cabral. Nela desenvolvemos um estudo da Festa do Divino Espírito Santo e suas práticas culturais na cidade de Marabá-PA, e investigamos a possibilidade de utilizar a Festa do Divino como ponto de partida para ensinar a história local na Educação Básica.
Nesse percurso investigativo, pretendemos verificar: qual a relação da comunidade com a Festa do Divino? De que forma essas festividades estão sendo abordadas na Educação Básica nas aulas de história? Como esse passado/presente em torno da Festa do Divino estão sendo representados nas escolas locais? Como o ensino da história local pode ser potencializado pela Educação Patrimonial? Pois entendemos que o ensino de História tem responsabilidade na formação dos indivíduos, e tal formação perpassa pela relação desses indivíduos com a cultura, com a cidadania e o desenvolvimento de sua consciência histórica crítica. Nesse sentido a Educação Patrimonial se apresenta como uma estratégia de ensino de História Local, que viabiliza o despertar do interesse da comunidade sobre a memória, identidade e as manifestações da cultura local.
Nessa fase da pesquisa além de ampliar as referências bibliográficas, foi realizada uma consulta ao acervo audiovisual da Fundação Casa da Cultura de Marabá, do qual participamos da constituição. Além disso, tendo em vista as limitações promovidas pela pandemia do COVID-19, foram realizadas algumas conversas por telefone com lideranças do Divino.
Nessa apresentação pretendemos destacar o discurso reproduzido por algumas lideranças e devotos do Divino Espírito Santo em Marabá/PA a respeito do processo de esvaecimento dessa cultura no município, associado ao desinteresse da juventude. A partir de um exemplo, apresentaremos como hipótese para a causa desse processo o abandono de algumas práticas outrora consideradas tradicionais e essenciais para a manutenção da cultura do Divino. E no final proporemos uma estratégia para o fortalecimento desse bem cultural em Marabá.
Essa pesquisa se desenvolve no município de Marabá, que está situado no sudeste do Estado do Pará, Norte do Brasil (Figura 1). Seu povoamento recente foi iniciado no final do século XIX, com a instalação do Burgo do Itacaiúnas por Carlos Gomes Leitão. Pouco anos depois deu-se início por Francisco Coelho um povoado no Pontal (hoje conhecido como bairro Francisco Coelho ou Cabelo Seco), onde se desenvolveu a cidade de Marabá (JADÃO, 1984; MATTOS, 1996).
Figura 1: Localização do município de Marabá/PA e concentração dos festejos do Divino Espírito Santo.
Fonte: o autor.
De origem barroca, o Divino Espírito Santo foi introduzido no Brasil durante o período colonial e ganhou características peculiares de acordo com a região de ocorrência (GONÇALVES E CONTINS, 2008; ABREU, 1996). Os grupos existentes em Marabá/PA remetem à década de 1940, um momento de intenso fluxo migratório, oriundo principalmente do estado do Goiás, em decorrência do auge dos garimpos de diamante e cristal de rocha nos rios Tocantins e Araguaia, que criaram condições para fixação de uma população até então sazonal (MOURA, 1910; SILVA; SANTOS FILHO, 2017). Atualmente o município de Marabá/PA conta com dezessete grupos do Divino em atividade, dos quais pelo menos quatorze estão situados na zona urbana da cidade (Figura 2).
Figura 2: Recorte da área de concentração os festejos. Duas das 17 “divindades” identificadas ainda não possuem dados georreferenciados, por isso não constam no mapa.
Fonte: o autor.
Como recurso didático procuramos sistematizar o Festejo do Divino Espírito Santo em duas etapas. A primeira delas é o Giro (em outras regiões do Brasil também é conhecido como folia), é uma forma de procissão, que traz “o sagrado à rua, sacralizando-a. [É] ao mesmo tempo, actos de piedade, de regozijo e exibição” (TEDIM, 2001 apud DE SOUSA, 2013). Mas o giro é também um momento de esmolação e divulgação dos festejos, é uma oportunidade de o Divino recolher doações e convidar a comunidade para festa.
A segunda etapa do festejo é a festa, que tem como referência o domingo de Pentecostes. O Pentecostes é celebrado pela Igreja Católica 50 dias depois do domingo de Páscoa, e representa a descida do Espírito Santo sobre os apóstolos de Jesus Cristo (BÍBLIA, Atos dos Apóstolos, 2). Realizada por quatro dias, a festa é iniciada na sexta-feira à tarde, com a chegada dos foliões, e encerrada na segunda-feira pela manhã, com a despedida. O momento mais importante, e que desperta olhares dos presentes, é a Mesa do Imperador, que acontece ao meio dia do domingo. Ela é um banquete ofertado ao Império do Divino, uma rememoração ao ato da Rainha Isabel, que compõem um dos principais mitos de origem do Festejo do Divino Espírito Santo. Segundo Gonçalves e Contins (2008), por volta de 1320, a Rainha Isabel de Aragão, também conhecida como Rainha Santa ou Santa Isabel, ofertou um banquete e a sua própria coroa aos pobres, em agradecimento pelo fim da guerra entre seu esposo Dom Dinis I e seu filho D. Afonso IV, que rivalizavam pelo trono de Portugal.
Mas o elemento no qual gostaríamos de manter a atenção é o Giro, que ao tratar da festa do Espírito Santo de Pirenópolis, De Souza (2013) considera uma parte essencial do Festejo, que tem como finalidade a solicitação de dádivas, mas principalmente, a função de “conexão social”, importante para a sobrevivência do Festejo.
Em Marabá/PA o abandono dessa prática tem impactado na “saúde” dos grupos. De acordo com os relatos de lideranças do Divino, como Raimunda Rodrigues Dias (coordenadora do Divino da Dica), Maria Lúcia Gomes Dias (coordenadora do Divino da Basilícia) e Olímpio Pereira de Souza (Folião do Divino do Raimundinho) dentre tantos outros (em depoimento para a FCCM, 2018), o abandono dessa prática se deu paralelo à ascensão do Protestantismo no município, uma vez que ao mudar de religião muitos antigos devotos teriam passado a recusar a visita dos Foliões do Divino.
Nesse sentido, o “povo do Divino” deixou de fazer o giro devido à pouca receptividade, porém o abandono da prática tira dos grupos a capacidade de autossuficiência, pois não conseguem mais arrecadar donativos para a festa e nem fazer a divulgação de suas festividades, o que são essenciais também para a conquista de novos adeptos, que por sua vez é requisito para a sobrevivência dos grupos e das práticas culturais. Maria Lúcia Gomes Dias, em seu relato destaca que “seus os foliões já estão velhos e não há um processo de renovação”. Tal afirmação sinaliza a ausência de um trabalho, atividades ou incentivos culturais para a manutenção da festa enquanto manifestação de uma comunidade, identidade e memória.
O único grupo que não está incluso nesse cenário, e vem conseguindo superar os obstáculos que têm enfrentado os demais, é o Divino do Raimundinho. O Festejo do Divino Espírito Santo que ficou conhecido como Divino do Raimundinho, recebeu esse nome em referência ao seu fundador Raimundo Coelho de Sousa, conhecido por muitos como Raimundinho do Divino. Esse grupo bastante jovem, em relação aos demais existentes em Marabá, iniciou suas atividades em 1990, depois de Raimundinho, na época com 26 anos, ter feito uma promessa pela saúde de sua mãe (Maria Joaquina Coelho). Prática comum entre os membros dessa festividade, pedir, alcançar a graça recebida e seguir firme na promessa.
Depois de alguns anos festejando na casa de seu pai, Olímpio Pereira de Souza, na qual derrubaram algumas paredes no intuito de abrir espaço suficiente para acomodar os devotos, em 1994 Raimundo ganhou um terreno e construiu a primeira versão da Igreja do Divino, na Travessa Santa Teresinha, no bairro Amapá.
Após o falecimento de Raimundinho, a divindade ficou sob a responsabilidade de sua mãe, Maria Joaquina Coelho de Souza, que festejou por três anos, vindo também a falecer. Desde então, Osmarina Coelho, filha de Joaquina e irmã de Raimundinho, assumiu a responsabilidade pela Coroa herdada de seu irmão, e tem conduzido os festejos juntamente com seu pai, Olímpio Pereira de Sousa (que tem 85 anos de idade e ainda exerce a função de folião), e seu esposo, Pedro Bernardo dos Santos.
Todos os foliões fazem parte da família, e dentre eles apenas um, o Sr. Olímpio Pereira de Souza, tem idade acima dos 30 anos. Luis Felipe Neves de Sousa e Felipe Eduardo Sousa de Sousa, por exemplo, têm apenas 17 anos, enquanto Thiago Coelho de Sousa tem apenas 16 anos. O que demonstra o interesse da juventude que compõe esse grupo e a ocorrência de uma renovação dos foliões.
Osmarina Coelho relata que em virtude da pouca receptividade da comunidade marabaense em relação ao Divino Espírito Santo, desde sua origem o Divino do Raimundinho tem realizado seu giro majoritariamente no município de Itupiranga/PA, visitando em Marabá apenas outros grupos e alguns poucos devotos. Segundo Osmarina, sempre foi uma preocupação do seu irmão e do seu pai ensinar e atribuir tarefas aos mais jovens, e isso tem garantido a força do seu grupo.
Conforme observado por Rodrigues (2020) ao estudar o Divino no Maranhão, o conhecimento dentro das festividades é oriundo das narrativas dos mais velhos, que vai secularizando com a participação dos mais jovens, e assim por meio de uma oralidade mediada entre eles, as práticas vão se reproduzindo e garantido a manutenção da cultura do Divino.
A ajuda financeira e o apoio na divulgação dos festejos, oferecidos pela Prefeitura Municipal, não tem sido suficiente para o fortalecimento da Cultura do Divino em Marabá. De modo que mesmo existindo dezessete grupos no município, apenas uma pequena parcela da comunidade tem conhecimento de sua existência.
Assim como De Barros Laraia (2002), entendemos que a cultura é dinâmica, e estará sempre em transformação, mas criar condições para a manutenção das práticas culturais é uma das incumbências do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, instituída desde sua criação através da Lei nº 378/1937, e que é compartilhada pelos estados e municípios. Nesse sentido, entendemos que a Educação Patrimonial se insere nesse contexto como “um processo permanente e sistemático de trabalho educacional centrado no Patrimônio Cultural” (HORTA, 1999, p. 4), e que deve visar a constituição de uma consciência de responsabilidade para com a proteção do Patrimônio Cultural.
Nessa perspectiva, essa pesquisa de Dissertação de Mestrado visualiza a Educação Patrimonial, aplicada na Educação Básica, como uma potente ferramenta para viabilizar não só o conhecimento da comunidade acerca do Divino, mas a manutenção desse bem cultural.
Assim a disciplina de história articulada com Programas do Governo Federal, como Mais Cultura nas Escolas (vinculado ao Programa Mais Educação), que prevê projetos de Inventário Cultural, poderá proporcionar “que diferentes grupos e gerações se conheçam e compreendam melhor uns aos outros, promovendo o respeito pela diferença e a importância da pluralidade” (IPHAN, 2013). Percebemos o quanto é importante um trabalho conjunto de políticas públicas para manter essas festividades, suas histórias e memórias.
Além disso, promover o conhecimento das práticas culturais e das narrativas existentes na comunidade, como caminhos possíveis para se ensinar a História Local e potencializar uma consciência histórica que perceba essas festividades, enquanto elementos constitutivos de sua cultura e identidade. Conforme observado por Rodrigues (2020) “além do aspecto religioso, a festa do Divino tem um princípio educativo”, pois as pessoas compartilham saberes por meio da oralidade, aprendem sobre a história do Brasil e de Portugal. Dessa forma, a partir do Divino Espírito Santo e sua relação com a comunidade, podemos criar estratégias, possibilidades de uso pedagógico para o conhecimento da história local.
Dessa maneira esta pesquisa tem caminhado para uma proposição do Divino Espírito Santo como ponto de partida, e a Educação Patrimonial como estratégia para o Ensino da História Local na disciplina de História nos 6º, 7º, 8º e 9º anos.
Nota Biográfica
Nascido em Marabá/PA em 1988, Ramon de Souza Cabral foi aluno de escola e universidade pública. Cursou Bacharelado e Licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Sul e Sudeste do Pará (UNIFESSPA), tendo concluído em 2015, com TCC sobre a Ecologia Humana no sistema de exploração dos castanhais de Marabá/PA de 1900 a 1950. Atualmente é discente do Mestrado Acadêmico do Programa de Pós-Graduação em História (PPGHIST) da UNIFESSPA, orientado pelo Prof. Dr. Geovanni Gomes Cabral. É membro do Laboratório e Grupo de Pesquisa ITEMNPO (Interpretação do Tempo: ensino, memória, narrativa e política); e tem experiência de dez anos pela Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM), onde atuou três anos no setor de Etnologia e no Projeto Memória, e há sete anos integra a equipe de Educador Patrimonial.
REFERÊNCIAS
Entrevistas
DIAS, Raimunda Rodrigues. Entrevista concedida a Ramon de Souza Cabral. Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2018.
DIAS, Maria Lúcia Gomes. Entrevista concedida a Ramon de Souza Cabral. Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2018.
DE SOUZA, Olímpio Pereira. Entrevista concedida a Ramon de Souza Cabral. Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2018.
DE SOUZA, Osmarina Coelho. Entrevista concedida a Ramon de Souza Cabral. Fundação Casa da Cultura de Marabá, 2018.
Bibliografia
ABREU, Martha. O Império do Divino: festas religiosas e cultura popular no Rio de Janeiro, 1830-1900. Tese (Doutorado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, SP: [u1.], 1996.
BÍBLIA, N. T. Atos dos Apóstolos. In: Bíblia Sagrada: Antigo e Novo Testamentos. Tradução de João Ferreira de Almeida. Revista e Atualizada no Brasil. 2 ed. Barueri – SP: Sociedade Bíblica do Brasil, 2011. p. 1427-1429.
BRASIL. Lei nº 378, de 13 de janeiro de 1937. Dá nova organização ao Ministério da educação e Saúde Pública, publicada no Diário Oficial da União em 15 jan. 1937, seção 1, página 1210.
DE BARROS LARAIA, Roque. Cultura: um conceito antropológico. Zahar, 2002.
DE SOUSA, Poliana Macedo. Festas do Divino Espírito Santo em Portugal e Além-Mar. Revista Mosaico-Revista de História, v. 6, n. 1, p. 107-119, 2013.
GONÇALVES, José Reginaldo Santos; CONTINS, Marcia. Entre o Divino e os homens: a arte nas festas do Divino Espírito Santo. Horizontes Antropológicos, v. 14, n. 29, p. 67-94, 2008.
HORTA, Maria de Lourdes Parreiras; GRUNBERG, Evelina; MONTEIRO, Adriane Queiroz. Guia básico de educação patrimonial. Brasília: Iphan, 1999.
IPHAN. Educação Patrimonial - Manual de aplicação: Programa Mais Educação. Brasília, DF: Iphan/DAF/Cogedip/Ceduc, 2013.
JADÃO, Paulo Bosco Rodrigues. Marabá: A história de uma parte da Amazônia, da gente que nela vivia e da gente que a desbravou e dominou, fazendo-a emergir para a civilização. De 1892 até nossos dias atuais. Marabá/PA, [s. e], 1984.
MATTOS, Maria Virgínia Bastos de. História de Marabá. Marabá, PA: Gráfica Itacaiúnas, 1996.
MOURA, Ignacio Baptista de. De Belém a S. João do Araguaya: Valle do Rio Tocantins. Rio de Janeiro: H. Garnier Livreiro-Editor, 1910.
RODRIGUES, Edvaldo Costa. A Festa do Divino Espírito Santo em terreiro de culto de matriz africana e afro-brasileira. Revista Educação e Cultura Contemporânea, v. 17, n. 48, p. 471-494, 2020.
SILVA, Cristiano Bento; SANTOS FILHO, A. S. A construção social do conflito: reflexões a partir da Vila Espírito Santo - território ribeirinho do sudeste paraense. Confronteiras, v. 1, n. 1, 2017.
Olá Ramon...
ResponderExcluirImportante as reflexões levantadas na pesquisa sobre a festa do divino apreendida como patrimônio cultural na perspectiva da Educação Patrimonial. No seu título você mobiliza, "Educação Patrimonial", "Ensino de História" e "História Local". Todavia, no texto não fica ainda muito claro: a) a articulação entre essas três categorias; b) o que você está entendendo por "História Local" e c) como essas categorias (acadêmicas, construções da ciência) se conectam com as práticas analisadas. Como você lida com essas questões?
Lembrando a comparação feita por Graciliano Ramos entre o exercício da escrita e a prática das lavadeiras de roupa do Estado do Alagoas, muito apropriadamente utilizada por você (professor Erinaldo Cavalcanti), no artigo “História e história local: desafios, limites e possibilidades”, eu diria que minha roupa ainda está muito suja. Mas talvez seja necessário estendê-la para que alguém aponte as manchas. E foi! Com certeza na próxima versão o texto estará menos inapto a ser compartilhado. A partir de agora estarei mais atento à articulação entre as categorias mobilizadas. Mas de antemão, a categoria de história local, que não foi problematizada no texto (como foi observado), está sendo pensada como um conjunto de relações e acontecimentos que tiveram repercussão municipal, e partir do qual pode ser refletido como essa dimensão local da História se aproxima ou se distancia do “global”. Nesse sentido, o Divino Espírito Santo é proposto como janela para a história de Marabá/PA, de modo que os professores possam mobilizar essa festividade, e a partir dela problematizar a configuração local da história e proporcionar aos alunos uma consciência história, condições para que eles se sintam sujeitos que atuam e interferem na construção das histórias.
ExcluirRamon querido...
ExcluirGostei da analogia que você estabeleceu com a metáfora (aqui na resposta). Certamente as reflexões serão ampliadas, as pesquisas desenvolvidas e a escrita "lavada", "ensaboada", "colocada de molho", enxaguada" e por aí segue... Parabéns pela pesquisa...
Obrigado, professor!
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ResponderExcluirRamon,
ResponderExcluirMuito interessante sua pesquisa a respeito do patrimônio da cidade. Fiquei curiosa a respeito das estratégias que você tem pensado para as turmas de História no ensino fundamental. Seriam atividades desenvolvidas em sala de aula ou em atividades externas? (Profa. Anna Carolina Abreu)
Olá professora Ana! A Educação Patrimonial, compreendida aqui como atividades de ensino formais e informais centradas no Patrimônio Cultural, pode ser articulada tanto em sala de aula quanto externamente (na rua da escola, em um ponto específico do bairro), nos “lugares de memória” (lembrando aqui Pierre Nora), que pode ser um festejo do Divino Espírito Santo. Nossa ideia não é propor atividades a serem desenvolvidas pelo professor, mas “demonstrar” o potencial da Educação Patrimonial (ou Educação para o Patrimônio, como também já está sendo chamada) como estratégia para problematizar a história local na educação básica.
ExcluirOlá Ramon, achei interessante o tema de sua pesquisa e considero que é realmente importante refletirmos sobre as festividades religiosas locais e como estas se articulam com os saberes e tradições, e a relação com a educação patrimonial, tenho uma sugestão de leitura, pode até ser que você já tenha tido acesso: ALMEIDA, Adriana Mortara e VASCONCELLOS, Camilo de Melo. Porque visitar museus In: BITTENCOURT, Circe (org.). O saber histórico na sala de aula. São Paulo: Contexto, 2006. p. 104-116.
ResponderExcluirVocê considera que é possível também incluir outras festividades religiosas para pensar um ensino local que seja capaz de articular a pluralidade religiosa da região?
Juliana Alves de Souza
Olá, Juliana! Ainda não conheço, mas providenciarei o texto e a leitura dele. Obrigado!
ExcluirQuanto à inclusão de outras festividades nessa discussão, pensamos que é possível sim, inclusive pertinente. O Divino Espírito Santo é mobilizado aqui pelo seu potencial patrimonial, por ser uma referência cultural, a ponto de jugarmos passivo de reconhecimento como Patrimônio Cultural. Por isso o utilizamos como ponto de partida, como janela para a história local. Mas entendemos que poderíamos trabalhar não apenas com outra festividade, mas também com outro bem cultural, inclusive de natureza material.
Parabéns Ramon, Excelente temática.
ResponderExcluirAchei interessante você pegar a questão da festa do divino e colocar como proposta de ensino e História para o Fundamental II. Gostaria de saber como você tem em mente em desenvolver está proposta em sala de aula? Vai seguir os conteúdos também dos PPPs e as DCNs?
Ramon,
ExcluirParabéns pela pesquisa. Gostaria de saber o que te motivou a escolher a Festa do Divino como tema? de que forma sua pesquisa poderá contribuir com esses sujeitos, já que sabemos que será usada como fonte para o ensino na escola?
quando falo dos sujeitos estou me referindo aos que estão diretamente ligados a Festa do Divino. Vera Lúcia.
Como a Vera fez a pergunta junto à pergunta do Alan, responderei os dois aqui!
ExcluirObrigado, Alan!
Não pretendemos avançar até a sala de aula, desenvolver atividades com alunos. O trabalho se tornaria muito extenso e não daríamos conta em tempo hábil. Por isso nos limitaremos a investigar como as festividades estão sendo abordadas em sala de aula, quais os obstáculos enfrentados pelos professores, e propor a Educação Patrimonial como estratégia. Nesse sentido, a Educação Patrimonial será operacionalizada como um caminho alternativo para se problematizar a “história local”. Portanto, os PPPs e as DCNs na verdade farão parte das minhas fontes, e serão mobilizados para investigar: que espaço nesses documentos é disponibilizado aos temas da “história local”? De forma os planejamentos anuais da disciplina de história estão articulados com os esses documentos e com as festividades locais? A partir disso, identificar se as festividades realizadas em Marabá/PA estão contempladas nas aulas de histórias no segundo segmento do Ensino Fundamental (6º, 7º, 8º e 9º ano) e se não, quais são os obstáculos para implementar tais discussões em sala de aula. Nesse percurso propor a Educação Patrimonial como estratégia para articular a Festa do Divino Espírito Santo como “lugar de memória”, como bem cultural, como janela para a história local, e assim proporcionar ao público discente condições para refletir seu papel como sujeito da história.
Quanto à Vera:
Obrigado, Vera!
Sou cientista social de formação, pela UNIFESSPA, pesquisei o sistema de exploração nos castanhais de Marabá/PA sob a perspectiva da Ecologia Humana, e me interesso há bastante tempo por temas que envolvem a cultura, a memória e a história de Marabá. Parte desse interesse devo à minha atuação junto à Fundação Casa da Cultura de Marabá (FCCM), com a qual mantenho vínculo desde 2010. Ao longo desse percurso integrei a equipe de Educação Patrimonial da FCCM, e por meio de alguns projetos tive contato com narrativas de moradores antigos, memorialistas da cidade, além de diversas práticas culturais, dentre elas o Festejo do Divino Espírito Santo. Essas experiências, minha formação, minha profissão, e os relatos de “enfraquecimento” dessa prática cultural no município, fizeram me sentir responsável por contribuir com o seu fortalecimento. Acredito que também por ser católico, simpatizei com a festividade, e quando surgiu a possiblidade de ingressar no PPGHIST/UNIFESSPA julguei pertinente escolher a linha de ensino e articular o ensino com a Educação Patrimonial, bem como o Divino Espírito Santo como ponto de partida para pensar os “lugares de memória” e contribuir com sua valorização. Ao passo que propor esse tema como janela para problematizar a configuração local da história (CAVALCANTI, 2018) se torna uma forma de valorizar a Cultura do Divino, e de constituir um senso de responsabilidade junto à comunidade para com a proteção do Patrimônio Cultural.
CAVALCANTI, Erinaldo. História e história local: desafios, limites e possibilidades. Revista História Hoje, v. 7, n. 13, p. 272-292, 2018.
Olá Ramon, fiquei muito feliz em ter acesso à sua pesquisa preliminar. É um fato que ocorre já há algum tempo, tempo relevante a ponto de ser incorporado na cultura local.
ResponderExcluirGostaria de me informar, como essa tradição se mantém hoje, se tem bastante vigor sobre a comunidade católica como outrora, ou se sofre abalos pelo crescente número de convertidos às seitas neo pentecostais, que de certa maneira, pelo menos até onde imagino, tentam deslegitimar certos costumes católicos.
Outra é que vindo está tradição do barroco brasileiro colonial, qual a relação com as culturas portuguesas que antecederam o evento nacional.
São considerações curiosas que me despertaram, pois imagino que as comunidades mais ligadas ao evento, devem ter penetrações nas escolas locais e como essa aproximação influência na religiosidade dessa população que frequenta as escolas próxima e tradicionais, justamente pelo contraponto religioso dos docentes dessas escolas?
Olá Jair! Obrigado! Atualmente Marabá/PA conta com 17 grupos do Divino Espírito Santo em atividade, apesar do número até expressivo eles têm encontrado dificuldades para se manterem em atividade. De acordo com relatos de lideranças, o crescimento do número de adeptos às denominações protestantes (de modo geral) tem reduzido a receptividade da comunidade em relação aos foliões do Divino, o que dificultou a manutenção da prática do Giro (ou folia), a qual tem como principais finalidades divulgar e recolher doações para a festa. Tal contexto colocou os festejos em certa condição de dependência financeira em relação à Prefeitura de Marabá, além de ter dificultado a divulgação da Cultura do Divino, e, portanto, desarticulado um dos principais meios de “atração” da juventude para o grupo de adeptos. Nesse sentido, tem se constituído um conjunto de fatores que têm provocado um processo de envelhecimento dos foliões do Divino, tendo em vista que não há renovação na maioria dos grupos.
ExcluirSobre a relação com a cultura portuguesa, ela é presente nas roupas, no mastro, nos “personagens” do Divino, no roteiro da festividade. Tem bastante elementos que lembram a festividade “original”, que teria sido iniciada pela Rainha Santa Isabel. Contudo, o Divido Espírito Santo passou por um processo de ressignificação aqui no Brasil, o que foi determinante para sua apropriação nas Terras de Vera Cruz, e provocou certa diversificação dessa prática cultural conforme a região de ocorrência (ABREU, 1996). Aqui em Marabá/PA, por exemplo, podemos encontrar elementos de matriz africana, como a Súcia, dentro do Festejo do Divino.
Sobre a relação dessa festividade e as escolas locais, ainda não tenho essa dimensão. Será investigada em um momento mais à frente da pesquisa.
ABREU, Martha. O Império do Divino: festas religiosas e cultura popular no Rio de Janeiro, 1830-1900. Tese (Doutorado em História). Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas, SP: [u1.], 1996.
Ramon, parabéns pela pesquisa. Em São Luis, na UFMA, tive contato com a Festa do Divino a partir de aulas da professora Marize Helena Campos, a qual utilizava a festividade em suas aulas como estratégia de ensino na graduação. Não sei se ela possui trabalhos específicos nessa área, mas com certeza tem leituras interessantes sobre a questão.
ResponderExcluirVocê apontou que a festa do Divino existe em outros locais do Brasil. Assim como a discussão sobre as potencialidades da educação patrimonial nas escolas. Em sua pesquisa você encontrou outros trabalhos que como a seu propõem a utilização da festa do divino como abordagem para o ensino da história local? Se sim, quais foram as estratégias utilizadas para essas aproximações?
No texto você cita as narrativas de algumas lideranças para o “enfraquecimento” dessa festividade, dentre eles está ascensão do Protestantismo, pouca receptividade e abandono. Em contrapartida cita o exemplo do Divino do Raimundinho, o qual destoa dos demais por superar certos obstáculos. O qual se deve ao engajamento dos familiares, e também ao giro ter pouco receptividade em Marabá, ocorrendo de forma mais acentuada em Itupiranga/PA. Quais explicações podem ser dadas para essas diferentes receptividades nas duas cidades? Partindo dessa pouca receptividade em Marabá, quais estratégias para mobilizar nas escolas desse município a festa do Divino como abordagem de ensino de história local que possibilitem romper essa barreira? Abraços. (Luis Lima de Sousa)
Olá, Luis. Tudo bem? Obrigado pela intervenção, e pela indicação da professora Marize Helena Campos, darei uma olhada. À respeito das ocorrências do Divino Espírito Santo em São Luís/PA, tem um caso específico que me chama atenção, “As Caixeiras do Divino”. Um estudo de Sérgio Ferretti indica que elas são um grupo de mulheres que mesmo vinculadas à Terreiros de Tambor de Mina conduzem anualmente festividades do Divino Espírito Santo nas casas de culto afro-maranhense. Um caso bem interessante de sincretismo.
ExcluirSobre trabalhos que articulam a festa do Divino e o ensino da história local, ainda não li nada tão aproximado, mas acredito encontrar conforme avançar com as leituras. Acerca da questão da receptividade do Divino, ainda não foi possível identificar como se dá essa relação em Itupiranga/PA, mas pensar estratégias para romper essa barreira em Marabá, é justamente uma das ambições desse projeto. Entendemos que criar condições para que a comunidade (de modo geral) tenha conhecimento acerca do Divino Espírito Santo, de seus significados, e que para além de uma prática religiosa é também uma prática cultural, é uma forma de valorização, e um importante passo para uma melhor receptividade para com seus representantes. Contudo, nossas impressões ainda tem muito do senso comum, e a maturidade dessa pesquisa ainda demanda muita pesquisa, leitura e problematização. Um abraço, Luis.
*São Luís/MA
ExcluirOlá novamente Ramon;
ResponderExcluirÉ muito preocupante o fato de festas tradicionais e também de motivos religiosos, trilharem caminhos opostos, posto que, as manifestações culturais, tem toda uma significação simbólica nas comunidades e em suas culturas.
A educação formal, assimila este tipo de ferramenta e incorporava-a aos calendários escolares, deixando as memórias dos lugares com uma certa estabilidade. Infelizmente, o avanço das seitas religiosas, principalmente as de procedências neo pentecostais, tratam de deslegitima e relativizar os valores que essas manifestações culturais, exerceram durante tempos nos locais de ocorrências.
Existe uma resistência pra tentar reverter e manter vivas essas tradições?
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ExcluirOlá, Jair! Obrigado pela intervenção. Minha opinião a respeito disso ainda é fundamentada no senso comum, se é que algo pode ser “fundamentado” senão no científico. Mas acredito que na verdade, com exceção aos membros dos grupos do Divino, o que há mesmo é um desinteresse em relação ao tema. Penso que no geral as pessoas não estão pensando muito nisso. O que foi possível identificar a partir dos relatos é que ao realizar uma tentativa de visita, os foliões são recusados, e que eles associam isso ao crescimento do protestantismo. Um abraço!
ExcluirPrezado Ramon, parabéns pela pesquisa! Meu questionamento é mais uma curiosidade e, quem sabe, você possa me fazer alguma indicação de leitura. Não li pesquisas quantitativas acerca das comunidades religiosas em Marabá, mas nos últimos 5 anos construí uma percepção de que se trata de uma cidade cuja maioria da população parece frequentar igrejas evangélicas. Você tem algum tipo de pista de como se dão as relações entre esse tipo de tradição católica e os diferentes grupos evangélicos?
ResponderExcluirOlá professora. Obrigado! Ainda não tenho nada a esse respeito, mas essa questão é bastante instigante, e adoraria ter acesso à referências sobre esse tema. Caso eu encontre algo, entro em contato, e adoraria que me avisasse também caso você venha encontrar. Um abraço!
ExcluirOlá, Ramon. Que tema interessante de pesquisa.
ResponderExcluirLendo seus apontamentos fiquei me questionando se somente a "migração" para as comunidades evangélicas foi fator de desarticulação da festa. Quais outros fatores você poderia apontar para isso? Mesmo que no início da sua pesquisa, como você pensa em apontar esse tema nas aulas? (visto que nessas séries que você cita quase não se vê essa temática)
Olá Lizandra! Obrigado pelo elogio e pela intervenção.
ExcluirMinhas impressões quanto à esse processo de desarticulação de alguns elementos do festejo do Divino estão ainda muito atreladas aos relatos das lideranças dos grupos. Mas certamente sim, devem haver outros fatores que influenciam em menor, ou igual proporção, os quais ainda não identifiquei, e talvez nem consiga identificar.
Quanto à abordagem desse tema nas aulas de história, o Divino Espírito Santo será apreendido como patrimônio cultural, e na perspectiva da Educação Patrimonial ele será mobilizado como um ponto de partida, ou melhor, uma janela para se problematizar a história local, a história de Marabá, em outras palavras, a configuração local da história. E mesmo que ao longo do percurso eu venha identificar que a BNCC entende que o segundo segmento do Ensino Fundamental (6º, 7º, 8º e 9º) não se enquadra como momento “apropriado” para se discutir essa dimensão da história local, penso que poderemos problematizar, por exemplo, o motivo de não estar previsto esse tipo de temática nesta etapa do ensino de história.
Espero que eu tenha minimamente conseguido dialogar sobre essa questão. Um abraço, Lizandra.
ResponderExcluirPrezados,
Muito interessante o artigo. Aproveito para perguntar:
quais desafios devem ser enfrentados pelos professores no que se refere à difusão e preservação do patrimônio cultural local em nosso país, frente a cada vez maior despersonalização cultural de que somos vítimas por parte de influências alheias à nossa formação civilizacional (tendo como um de muitos, o exemplo do Halloween)?
Victor Gonçalves de Matos
Olá Victor! Obrigado por levantar essa questão.
ExcluirPenso que os desafios são inúmeros, principalmente em relação às condições de trabalho. Mas a sala de aula é do professor, ele “ainda” tem certa autonomia para se apropriar de referências históricas e culturais da comunidade, para articular discussões com seu público discente, o que é importantíssimo para a constituição de uma consciência histórica e um sentimento de responsabilidade para com a proteção do Patrimônio Cultural. O IPHAN tem disponibilizado alguns manuais para projetos de inventário cultural que podem ser desenvolvidos por meio do Mais Educação. E é uma relevante contribuição nessa perspectiva de atuação da escola e do professor.
Quanto à “despersonalização cultural” da qual falaste. É um tema bem complexo e delicado. Penso que com esse mundo “globalizado” o fluxo de informação é muito intenso, e tendo em vista que a cultura é dinâmica, está em constante transformação (DE BARROS LARAIA, 2002), é “natural” que ocorram trocas e apropriações. No entanto, o interessante desse processo é a forma como essas práticas culturais são reinventadas e ressignificadas, pois o que ocorre não é um “transplante”, essas práticas passam por um tipo de personalização quando “operadas” nesse outro espaço e nesse outro tempo.
Ramon parabéns, estou muito feliz com suas respostas, desenvoltura e articulação. Venho acompanhando seu trabalho que tem vários desafios, como qualquer outra pesquisa. Gosto muito dessa temática e sei que o PPGHIST e a cidade de Marabá terá um trabalho de qualidade e referência.
ResponderExcluirObrigado, professor, sobretudo pelas orientações.
ExcluirVocê tem sido importantíssimo para esse processo!